O outro

É impressionante quando se entra em um ônibus e começa a observar as pessoas.

Pensar que cada um tem sua própria história de vida, seus amores e desamores, suas conquistas e suas derrotas, cada um tem sua personalidade, sua criatividade, seu gosto de se vestir, o que gosta de comer, o que o faz sair de casa, e o que gosta de fazer nos finais de semana, as músicas para ouvir, os programas para assistir, enfim sua própria vida que se confunde com a vida de muitos outros brasileiros.

A inflação tá alta?

O salário é pouco?

Tem filho para criar?

E a farmácia desse mês como vai ficar?

Ainda tem a água e a luz para pagar?

É assim que o povo brasileiro vive, aperta dali arrocha daqui, o salário falta e as despesas sobram.

Aquele senhor de óculos sentado no banco da frente parece ser um pai de família, sério, mas com a aparência cansada de quem acabou de enfrentar um longo dia de trabalho. A mocinha que está em pé perto do trocador, com certeza, irá descer no ponto do shopping. Eu fico imaginando que ela irá ao cinema com as amigas e chegará tarde em casa. Coisa de menina!

Eis que surge um pequeno garotinho vendendo balas e doces e só me vem a vontade de perguntar, você estuda? Tem mãe? Tem família? Gosta de trabalhar, sendo assim tão pequeno?

A viajem continua, ônibus lotado, entre um empurrão e outro estou aqui olhando as pessoas e imaginando o que fazem, de onde vêem, para onde vão. Enquanto elas também não sabem nada sobre mim.

Tudo acontece em simultaneidade, o trocador recebe a passagem, o motorista continua a dirigir, as pessoas sobem e descem e a viajem continua.

E assim segue-se a viagem em que os pontos de partida se diferem, mas os destinos podem se encontrar.

Gisele Simões